O Cansaço da Alma e o Peso de Viver, por Saulo Carvalho
O Cansaço da Alma e o Peso de Viver, por Saulo Carvalho
O Cansaço da Alma e o Peso de Viver, por Saulo Carvalho
Quando a vontade de existir desaparece, não é o corpo que adoece primeiro, é a alma. A cabeça pesa, o pensamento não anda, as ideias não fazem sentido. Não se trata de tristeza comum. É como se algo tivesse se quebrado por dentro e não sobrasse energia nem para desejar.
Esse vazio não começa de uma vez. Ele se forma com o tempo. São dores guardadas, decepções antigas, lembranças mal resolvidas. São as ausências da infância, os afetos mal cuidados, os sonhos frustrados. Tudo isso vai se acumulando num canto escuro dentro de nós, um lugar silencioso que chamamos de sombra. Quando essa sombra cresce, ela nos paralisa. O mundo parece perigoso, os desejos parecem inúteis, a vida perde o gosto.
Mas mesmo assim, algo dentro de nós ainda quer viver. Mesmo sem força, há desejos que continuam ali. Há sonhos que não morreram, só estão presos. O problema é que a dor os encobre. A sombra ficou tão espessa que a luz não chega mais onde deveria.
A cura acontece aos poucos. Primeiro é preciso deixar morrer o que já não serve. São lembranças que ainda machucam, mágoas que ainda pesam, feridas que continuam abertas. Não se trata de esquecer o que aconteceu, mas de tirar a dor do centro da vida. Isso acontece quando começamos a falar, a chorar, a entender. Quando damos nome ao que sentimos. Quando paramos de esconder o que dói.
Mas não basta cuidar da dor. É preciso também voltar a viver. E a vida começa nas pequenas coisas. No cheiro de uma flor, no gosto de uma fruta, no carinho de um animal, no toque da natureza. A alma precisa disso. Precisa brincar, rir, descansar. Precisa do simples. Precisa de leveza. São essas pequenas alegrias que vão alimentando o que somos por dentro.
A vida volta quando a luz da consciência desce até a sombra e quando a vontade escondida dentro de nós começa a subir de novo. O encontro dessas duas forças cria um eu mais forte, mais inteiro. Um eu que não precisa fingir que está bem o tempo todo, mas que consegue caminhar mesmo com as cicatrizes.
Viver é esse movimento constante de morrer e nascer, de esvaziar e florescer. A dor precisa ser escutada para poder ir embora. E a alma precisa ser cuidada para poder crescer. Quando damos espaço para isso, aos poucos, a vida volta a respirar. Não com pressa, não de uma vez, mas com verdade. E essa verdade nos devolve o chão.