Max Ernst foi um inventor de imagens. Não pintava aquilo que via, mas o que o mundo não ousava mostrar. Fez da arte um campo de experimentos entre o acaso e o inconsciente, recusando a lógica, rejeitando a ordem. Sua linguagem nasceu do espanto diante da guerra, quando a razão europeia, confiando no progresso, produziu trincheiras e silêncio. Ernst respondeu com colagens absurdas, misturando membros humanos, engrenagens e flores secas. Criou mundos onde tudo parecia fora de lugar e, por isso mesmo, essencial.
Inventou técnicas como a frotagem, onde esfregava lápis sobre texturas e fazia brotar florestas imaginárias da madeira. Desenvolveu a gratagem, raspando a tinta da tela até que figuras monstruosas emergissem da matéria. Depois veio a decalcomania, deixando que a tinta, ao ser prensada, formasse relevos de paisagens fossilizadas. A forma era menos importante que o gesto. A imagem nascia do erro, da textura, do impulso.
Sua figura recorrente era um pássaro. Chamava-se Loplop. Meio homem, meio ave. Presença constante, ora mestre de cerimônias, ora presságio. Como Ernst, era híbrido, irônico, deslocado. Não guiava o olhar. Desafiava-o.
No fim da vida, Ernst fez esculturas com objetos do cotidiano. Criou deuses a partir de funis, conchas e pedaços de ferro. Transformou restos em mitologia. Sua arte é uma convocação à liberdade. Ele não oferece respostas, apenas ferramentas. Seu legado é a permissão de ver sem entender. A coragem de aceitar que o real, por vezes, é mais estranho do que o sonho.