Quando se para de Ler, por Saulo Carvalho
A Cultura do Improviso
A perda do hábito da leitura não é apenas uma mudança de gosto. É um sinal de empobrecimento interior. Ler exige silêncio, paciência e atenção. E essas três coisas se tornaram raras.
Sem leitura, a linguagem se torna rasa. O pensamento perde profundidade. As pessoas falam muito, mas compreendem pouco. Reagem rápido, mas não refletem. Não há mais tempo para entender, só para opinar.
Ler é um exercício de escuta. Quem lê se cala por dentro. Aprende a esperar, a duvidar, a considerar. E isso forma o espírito. Não há sabedoria possível sem observação. E não há observação sem alguma forma de leitura.
Quando um povo deixa de ler, perde mais do que livros. Perde referências, sutileza, memória. A cultura vira um conjunto de frases prontas. A conversa se transforma em disputa. A palavra se esvazia.
Sem leitura, não há comparação, nem hierarquia, nem análise. Faltam critérios. A mente perde a capacidade de julgar o que é relevante, o que é profundo, o que é verdadeiro. Tudo se iguala na superfície. As ideias se tornam frágeis porque não têm onde se apoiar.
A decadência da linguagem é a decadência do pensamento. Quando as palavras se tornam imprecisas, sentimentais ou vazias, o raciocínio se desfaz e a verdade perde contorno. Sem linguagem firme, não há juízo claro. Tudo vira sensação, impulso, ruído. E onde não há palavra justa, não pode haver consciência desperta.