O Escritor da Palavra Exata
Um reconhecimento justo a Graciliano Ramos
Por Saulo Carvalho
O Escritor da Palavra Exata
Um reconhecimento justo a Graciliano Ramos
Por Saulo Carvalho
O Escritor da Palavra Exata
Um reconhecimento justo a Graciliano Ramos
Por Saulo Carvalho
Graciliano Ramos nasceu em 27 de outubro de 1892, em Quebrangulo, no interior de Alagoas, e faleceu no Rio de Janeiro em 20 de março de 1953. Foi casado duas vezes e teve oito filhos. Homem de temperamento firme e humor ácido, não era afeito a rodeios, tampouco à complacência. Era respeitado por seus pares, admirado por colegas de ofício como Raquel de Queiroz e Manuel Bandeira, que reconheciam nele o talento rude e depurado de um escritor que jamais traiu a língua que escolheu como instrumento.
Graciliano Ramos ocupa um lugar central na literatura brasileira por sua capacidade de extrair a mais densa expressividade do mínimo de palavras. Sua prosa é seca, precisa e contundente. Foi um dos grandes nomes do modernismo regionalista, embora não se deixasse aprisionar em nenhuma etiqueta. Seu olhar para o Brasil era severo, sem eufemismos, sem encantamentos fáceis. Um olhar que revelava o sertão, a miséria, o autoritarismo e a secura da existência com a frieza de um bisturi.
A sua grandeza está justamente no domínio da forma. Em Graciliano, cada frase carrega o peso do mundo. Nada sobra, nada falta. A limpidez estrutural de seus textos revela uma ética da escrita. Escrever, para ele, era um ato de responsabilidade, uma luta contra a mentira e o desperdício verbal. Tinha apreço sincero pela língua portuguesa e cultivava uma aversão meticulosa à adjetivação inútil. Suas frases, curtas e lapidares, são testemunhos de um compromisso rigoroso com a palavra.
Entre seus livros mais importantes estão São Bernardo, Angústia, Infância e o célebre Vidas Secas, obra-prima que cristaliza o drama do sertão nordestino e da pobreza brasileira sem nunca cair no sentimentalismo. Em Memórias do Cárcere, Graciliano alcança um grau de sinceridade e crítica que transcende o testemunho pessoal para se tornar denúncia política e meditação sobre o poder. Sua experiência como preso político durante o Estado Novo deu-lhe ainda mais densidade como cronista da brutalidade e da desumanização.
Graciliano Ramos não buscava agradar. Não escrevia para entreter. Escrevia para dizer o que precisava ser dito. E disse. De maneira exata, implacável, sem concessões. Sua literatura é um monumento à integridade intelectual e à força da palavra limpa. Um escritor que permanece, não por causa do tempo, mas apesar dele.