Um Projeto de Nação: entre Realidade e o Ruído
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Um Projeto de Nação: entre Realidade e o Ruído
Um Projeto de Nação: entre Realidade e o Ruído
Por Saulo Carvalho
O Brasil parece prisioneiro de um debate que perdeu o sentido. A polarização entre esquerda e direita virou uma caricatura de si mesma. Transformou-se em um instrumento de distração, uma neblina que encobre o que realmente importa. Enquanto o país se divide em campos ideológicos, decisões cruciais são tomadas longe do olhar público. O discurso se repete, o conflito se recicla e a realidade concreta, o orçamento, o uso dos recursos públicos e a integridade das instituições, se dissolve sob a tônica das paixões políticas.
É lamentável observar cidadãos bem-intencionados, inteligentes e sinceros, engajados em disputas que já não produzem nada além de ruído. Dividem-se quando poderiam somar. Destroem pontes quando poderiam construir estradas. O país desperdiça energia com debates infantis, enquanto os verdadeiros problemas se resolvem nos bastidores do poder. A polarização se tornou espetáculo de distração, e muitos, sem perceber, se tornaram parte dessa encenação coletiva.
A CPMI do INSS mostrou e mostra com clareza esse desequilíbrio de prioridades. Parlamentares da base do governo blindaram o irmão do presidente, impedindo que fosse investigado. A conveniência prevaleceu sobre a transparência.
O governo, ao permitir essa blindagem, reforça um padrão corrosivo. Não se trata de culpados individuais, mas de símbolos. Quando o poder protege os seus, mina a confiança nas instituições e transforma a ética em vazio. Um gesto de grandeza seria submeter todos ao mesmo rigor. Só assim o discurso republicano teria peso.
Enquanto isso, a estrutura política permanece sólida e autossuficiente. Gabinetes inchados, cotas e auxílios que se multiplicam, emendas que irrigam bases eleitorais e o famoso fundo partidário que assegura a sobrevivência dos grupos de sempre. Os partidos se tornaram empresas familiares, que sustentam seus donos, herdeiros e aliados em vários níveis da máquina pública. Esse sistema se retroalimenta e se apoia em absurdos como o financiamento público de campanhas eleitorais, que chegará a quase 5 bilhões de reais em 2026. Um acinte institucional sobre o qual é preciso que haja debate. A igualdade de condições entre político e cidadão comum no pleito é uma ficção. A democracia, na prática, é bloqueada desde a largada.
O princípio da publicidade dos atos administrativos, encartado na Constituição de 1988, tornou-se um "adorno". A transparência virou peça de marketing institucional, esvaziada de conteúdo real. O país parece entorpecido, sem oposição efetiva, sem vozes firmes e sem mobilização por motivos críveis. O cansaço coletivo se confunde com indiferença. A nação parece anestesiada pelo tédio e pela descrença.
Escrevo porque ainda acredito na força do pensamento e na lucidez como forma de resistência. Busco apenas despertar a dúvida e o pensamento lógico. Há pessoas honestas, sérias e idealistas dedicadas a boas causas, mas muitas não percebem o muro que se ergue diante de todos nós. Estão presas ao ruído ideológico, distraídas por narrativas que já não dizem nada. Pensam que sabem, mas nem sabem que não sabem. O que trago aqui é a realidade concreta, muito além dos discursos prontos, das bandeiras partidárias e das afinidades de ocasião.
O debate nacional é mais simples do que sugerem os discursos. O país precisa de candidaturas avulsas, de uma reforma política real, de voto facultativo, de união e de inarredável cumprimento da lei, de um líder respaldado que imponha limites ao sistema bancário nacional, apenas para começar. Os brasileiros precisam resgatar o sentido de pertencimento, de projeto e de futuro. O Brasil carece de um projeto de Nação. Não de governo, não de partido ou de ideologia. O resto é ruído. A verdade está diante de nós, nítida e incômoda, como sempre esteve, talvez.