O www.oleitorcriativo.com.br e O Jornal de Saulo Carvalho são publicações da HUB Capital Cultural Consultoria.
Por Saulo Carvalho
[...] voltei ao infindável poema Saudação a Walt Whitman.
Desta vez, porém, fui guiado pela curiosidade sobre um nome em especial, que surge no texto entre outros nomes conhecidos e citados ao longo dos versos.
Assim iniciei a pesquisa sobre um tal “Milton-Shelley”, já com a suspeita de que se confirmaria em seguida. O nome me soava verdadeiro demais para ser simples invenção.
De fato, tal poeta não existia. Trata-se de uma persona poética, uma criação lírica e ficcional a partir da fusão de dois autores ingleses: John Milton, nascido em Londres em 1608 e falecido em 1674, e Percy Bysshe Shelley, nascido em Horsham em 1792 e morto em 1822.
No poema, Álvaro de Campos dispara:
“Milton-Shelley do horizonte da Electricidade futura!
Incubo de todos os gestos,
Espasmo p’ra dentro de todos os objectos-força,
Souteneur de todo o Universo,
Rameira de todos os sistemas solares…”
Relendo a estrofe em sua integralidade, percebi que não era apenas uma referência aos poetas, mas uma alquimia literária. John Milton, com Paradise Lost, ergueu o destino humano diante de Deus e do Universo. Percy Bysshe Shelley, com Prometheus Unbound e a Ode to the West Wind, chocou seu tempo com versos excêntricos e místicos.
Álvaro de Campos, em seu delírio modernista, fundiu ambos e criou um poeta impossível, um marco de rupturas, entre o criador, o humano e o transcendente.
[...]