“A felicidade parece ser o objetivo da vida; mas a fórmula não se sustenta.
Os homens medem a felicidade pela ausência de dor e desprazer — mas o que resta disso quando a vida nos impõe frustrações permanentes?
A civilização existe para proteger o homem contra a natureza e contra os outros homens.
Ela é construída sobre a renúncia às pulsões.
O que chamamos de cultura nada mais é do que uma soma de realizações que distinguem nossa vida da dos animais: ciência, arte, instituições, leis.
Mas cada passo civilizatório exige repressão.
A sociedade diz: ‘Você não pode’.
E o indivíduo, para se ajustar, recalca seus desejos.
E esse recalcamento não desaparece: ele volta como angústia, culpa, neurose.
O ser humano torna-se infeliz ao tornar-se civilizado.
A renúncia ao instinto sexual é exigida em nome da monogamia.
A renúncia ao instinto agressivo é exigida em nome da paz social.
Mas esse sacrifício constante gera uma tensão psíquica — um mal-estar — que se infiltra em todos os aspectos da existência.
O amor, por exemplo, que deveria ser uma fonte de prazer, é regulado, domesticado, julgado.
O sujeito moderno vive em conflito:
Entre o desejo de ser livre e a necessidade de pertencer.
Entre a potência de seu inconsciente e o controle imposto pela cultura.
O homem civilizado é um animal doente.
A cultura o protege — mas o sufoca.
E assim seguimos: neuroticamente adaptados, educadamente infelizes, desesperadamente normais.”